quinta-feira, 5 de agosto de 2010


De órfão a filho, da vergonha a dupla honra

2 Samuel 4.4; 9.1-13

Introdução: Mefibosete significa vergonha. Ele era filho de Jônatas e neto de Saul, o primeiro rei de Israel. Tinha somente cinco anos de idade quando Jônatas e Saul foram mortos na batalha travada contra os filisteus no Monte Gilboa. Ao saber da notícia e apressando-se em fugir, a ama de Mefibosete, deixou o menino cair, ficando ele aleijado de ambos os pés.
Era comum naqueles dias que o novo rei procurasse exterminar a descendência do seu antecessor, como forma de garantir a sobrevivência do seu reino. Davi, como fica mais tarde demonstrado, não seguiria essa tradição, mas a família de Saul não tinha tanta certeza. Além disso, o rei Saul passara os últimos dez anos do seu reinado procurando exterminar Davi, sem sucesso, a quem o profeta Samuel, por ordem do Senhor, havia ungido rei sobre Israel.
Assim, Mefibosete foge e vai morar numa terra distante, num lugar chamado Lo-Debar. Lo-Debar significa , onde não há pasto, um lugar seco, árido, inóspito. E assim, como toda verdade tem um paralelo, Mefibosete não somente passa a viver numa terra estéril, mas a sua alma também mergulha numa terrível sequidão. Ele passa a viver amedrontado, sobressaltado diante da possibilidade de ser alvo da fúria de um novo rei. Ele se torna um homem ressentido, depressivo, espreitando em cada sombra a silhueta da morte. Essa é a imagem que ele tem de si mesmo: um homem vencido, paralisado, sem forças para lutar, abalado, complexado, em depressão profunda, menos importante que “um cão”.
**A verdade é que temos alguma coisa em comum com Mefibosete. Ele nasceu numa família real, carrega consigo as marcas de uma queda e vive com medo. Quando Deus criou o homem ele desejou uma família de muitos filhos. Os nossos primeiros pais receberam a imagem e semelhança do Pai e, assim, como todo ser vivo se reproduz segundo a sua própria espécie, ao se multiplicarem, estariam reproduzindo esse mesmo DNA. No entanto, o primeiro casal escolheu desobedecer à ordem do Criador e caiu em desgraça. Como conseqüência, descobriram que estavam nus e com medo. Esse é o resultado da queda. Como Mefibosete caiu e ficou aleijado, assim também Adão e Eva, bem como toda a raça humana, caíram e ficaram aleijados da presença do Pai, passando a viver sobressaltados e com medo. O medo é uma terrível prisão onde o inimigo planeja colocar todo ser humano, paralisando e sugando as suas forças, com o intuito de matar, roubar e destruir.
É dessa forma que Mefibosete sobrevive por quase vinte anos. Enquanto crescia, a história de um passado glorioso e distante lhe era contada. Desde quando o seu avô reinou por quarenta anos em Israel. Como ele mesmo até os cinco anos de idade viveu no palácio real, com todas as facilidades que isso significava. Como sua família perdera o trono e como ele mesmo tornara-se coxo de ambos os pés. Ainda mais, agora tem que fugir, tem que se esconder, tem que viver numa terra ruim. Tudo parece um pesadelo que nunca termina. Ele se sente injustiçado, fracassado, triste. Mefibosete tem as marcas de uma orfandade profunda.
Há muitos vivendo hoje como Mefibosete. Feridos na identidade e esmagados por um profundo sentimento de desvalor, alguns se vestem de orgulho, enveredam pela soberba e endurecem o coração, tentando se proteger. Outros afundam na autopiedade, assumindo o papel do coitadinho lamuriento “ninguém me ama, ninguém me quer”, tentando atrair a atenção das pessoas, sem perceber que orgulho e autocomiseração são duas faces da mesma moeda, produzida pela mesma fonte: vergonha.
Certo dia, movido pelo desejo de revelar a paternidade de Deus, o rei Davi faz a seguinte pergunta: “… há ainda alguém da casa de Saul a quem eu possa mostrar a bondade de Deus?” 2 Sm 9.3. Davi aqui se oferece como um tipo de Cristo. Assim como o Senhor Jesus veio revelar o coração paterno de Deus, Davi estende a sua mão para abençoar Mefibosete e quebrar o espírito de orfandade que havia sobre ele.
É nesse ambiente que os carros do rei chegam para levá-lo. Os oficiais dizem a Mefibosete que Davi deseja vê-lo. Enquanto é levado ao palácio, ele deve ter pensado: “Chegou finalmente o que eu temia. Espero apenas que a morte seja rápida.” O que Mefibosete não sabia era que Davi havia feito uma aliança com Jônatas, seu pai, e ele estava decidido a cumprir o que prometera.
Quando finalmente Mefibosete encontra-se com Davi, ele ouve as mais lindas, paternas e sinceras palavras que um órfão poderia ouvir:
1. “Não temas”. Davi sabia que o maior monstro que atormentava Mefibosete era o medo.
2. “Usarei de bondade para contigo”. Deus é bom. Pois eu sei os planos que tenho para vós, diz o Senhor, planos de paz, e não de mal, para vos dar uma esperança e um futuro. Jr 29.11.
3. “Te restituirei todas as terras de Saul teu pai”. Fala de herança, filiação, direitos de filho. Fomos abençoados com toda sorte de bênçãos em Cristo.
4. “Comerás pão sempre à minha mesa”. Fala de provisão e honra.
O coração de Davi reflete o coração de Deus. Mefibosete viveu a maior parte da sua vida esperando pelo pior, sem saber que o coração do rei lhe era favorável. Ele não precisava viver fugindo e vivendo na esterilidade. Os planos do rei para ele eram de paz para lhe dar uma esperança e um futuro.
Assim é o coração do Pai. Todo dia ele tem uma palavra encorajadora para mim: não tenha medo! O seu caráter é imutável, e quando ele diz que me ama não há nada que eu possa fazer ou deixar de fazer que faça com que ele deixe de me amar ou me ame menos. Quando eu peco, ele continua me amando, embora deteste o pecado, e eu necessite me lembrar que pecado tem conseqüências. Ainda assim, ele continua sendo bondoso para comigo. A sua herança esta à minha disposição. Em Cristo tenho direitos de filho, tenho orçamento, eu já fui abençoado nas regiões celestes.
Mefibosete teve a sua sorte mudada. Sua verdadeira identidade restaurada. Sua alma curada. De órfão foi levado à condição plena de filho. Da terra árida foi levado ao palácio. Da vergonha foi elevado à dupla honra. Uma história de fracasso transformada em sucesso. Essa é a vontade do Pai para os seus filhos. Essa é a verdade a respeito do nosso Pai celestial. Não mais medo, não mais viver em esterilidade, não mais viver fugindo. Temos paz, temos uma esperança e um futuro, provisão e honra.

domingo, 1 de agosto de 2010

O som de sua vida: o líder de louvor e seu caráter

Muitas vezes tive o privilégio, e o desafio, de compartilhar com líderes de louvor os tópicos de integridade e caráter de Deus como características fundamentais para um efetivo líder de louvor. Eu, frequentemente, proponho a discussão fazendo a seguinte pergunta aos líderes: “Qual é o instrumento mais forte e mais poderoso que você usa como líder de louvor?” E as respostas são variadas de acordo com as preferências musicais encontradas na sala. Minha voz, meu violão, meu teclado, minha bateria (sim, alguns líderes de louvor estão usando isso!!). Alguém, inevitavelmente, fala, de uma forma tímida, e dá a resposta por trás das respostas: “minha vida”. Todos na sala balançam a cabeça concordando, enquanto atingimos um profundo acorde espiritual juntos.

O som de nossas vidas.

Biblicamente e experimentalmente, nós entendemos que uma vida poderosa é o mais permeável, inspirador, transformador e impactante instrumento de liderança que o Senhor tem em suas mãos. Podemos dizer que sua vida e minha vida são os “instrumentos de liderar louvor” – especialmente quando eles fazem um som que o agrada. Muito além de nossos dons musicais, Deus parece estar disposto a encontrar líderes de louvor ( de qualquer idade, eu posso acrescentar) marcados por uma riqueza de tons espirituais – tons derivados de uma vida intima com Jesus, integridade pessoal, compromisso público com a atividade do Reino e motivação pura dentro de si. Tais virtudes dão voz ao instrumento que usamos para liderar. O músico que procura um bom instrumento busca profundidade, riqueza e sustentação. Deus procura por corações bons – profundos, ricos e sustentados – para liderar Seu povo em adoração.

As freqüências do coração.

Para aprofundar mais a analogia, o som do nosso coração é feito de notas, ritmos e letras que são primeiramente forjadas num fogo profundo de escolhas diárias, através da alegria e do sofrimento. Nós chamamos a música do nosso coração de “nosso caráter”. Horace Mann uma vez disse: “Reputação é o que homens e mulheres pensam de nós. Caráter é o que Deus e os anjos conhecem de nós”. Nosso caráter é o nosso “eu” escondido, a música que vivemos, a postura com que nosso coração encara a vida.
Em Gálatas 5:22-23, nós lemos sobre o fruto do Espírito. Para nossa aplicação, nós vamos chamá-los de “sons do Espírito”. Essencialmente, o “som” que buscamos manifestar é o caráter de Jesus, que deve ser vivo e expresso através de homens, mulheres e crianças cheios com Seu Espírito. Veja como Eugene Peterson traduz essa importante passagem para nós: “mas o que acontece quando vivemos no caminho de Deus? Ele traz dons para nossa vida, de uma forma muito parecida com os frutos que aparecem nos galhos – coisas como afeição por outros, exuberância pela vida, serenidade. Nós desenvolvemos um anseio para agarrarmos estas coisas, um sentido de compaixão no coração e uma convicção de que a santidade permeia coisas e pessoas. Nós nos encontramos envolvidos em um compromisso leal, não precisando forçar nosso caminho na vida, capazes de empregar e dirigir nossas energias sabiamente”.
Nós vamos olhar brevemente para três áreas de caráter, ou sons do Espírito, que deveriam ressonar da vida de cada líder de louvor:

O som da santidade.

Santidade é vida pura. Santidade é manifestada no coração daquele que escolhe a inocência e a honestidade em face de um mundo que se declina à própria indulgência. O som de santidade é ouvido de um coração postado a honrar a Deus a qualquer custo, por seguir seu caminho, vivendo honestamente, aberto e confiante em Deus e nos outros, convencido de que é Deus que nos capacita a viver puros e inculpáveis, filhos de Deus irrepreensíveis no meio de uma geração corrompida e perversa. (Filipenses 2:15)

O som da fidelidade.

Fidelidade é uma vida de compromisso. Fidelidade é manifestada no coração daquele que tem um compromisso vibrante com Deus e com as pessoas. O som da fidelidade é ouvido do coração daquele que está envolvido em compromissos leais: comparecendo no horário, cumprindo as tarefas fielmente e sendo consistente com suas promessas. Nós confiamos que Deus, de acordo com Suas promessas, se mostre fiel e íntegro a nós (2 Samuel 22:26)

O som da integridade.

Integridade é uma vida consistente. Integridade é manifestada no coração daquele que vive a vida pública consistentemente com suas crenças particulares. O som da integridade é ouvido do coração daquele que é justo tanto em suas questões interiores quanto em questões expostas. Integridade fala sobre a verdade em lugares íntimos (Salmo 51:6) dirigindo e reinando em nossas motivações e atitudes, fazendo de nós homens e mulheres de palavra.

O caráter do líder de adoração.

John Wimber continuamente lembrava os líderes de louvor da Vineyard através dos anos: nós valorizamos o caráter acima dos dons. Ter o caráter de Cristo é central no chamado do líder de adoração. As atitudes do nosso coração influenciam cada membro da congregação ou grupo que lideramos. Nós discipulamos não apenas pelo como nós somos, mas mais concretamente por quem nós somos como líderes de louvor. As músicas e notas audíveis não são as únicas músicas que estamos cantando. Alguns anos atrás, um homem veio até mim após um período de louvor e me fez os melhores elogios que eu já tinha recebido. “Dan, seu violão não chegou nem perto da beleza de seu coração esta manhã. Seu coração me guiou ao trono de Deus”. Humilde, eu nunca esqueci que minha autoridade de liderar pessoas em adoração em vida pública está arraigada em uma vida secreta com Deus. A qualidade máxima em nossa liderança de louvor depende da qualidade máxima do nosso caráter interno.

Usado por Deus.

Todo líder de louvor que eu conheço tem um anseio de ser usado por Deus de uma forma profunda. No entanto, ao longo dos anos, eu tenho testemunhado muitas batalhas ganhas e perdidas na vida, neste solo de assuntos escondidos no estilo de vida dos líderes de adoração. Mesmo aqueles com o tremendo desejo de serem usados por Deus têm terminado sendo usados e abusados pelo inimigo de nossas almas. Se nós queremos mais do poder de Deus agindo através de nós, nós devemos, primeiro, permitir que o Seu propósito seja trabalhado em nós. Nosso fundamento interior tem de ser capaz de suportar o peso das responsabilidades espirituais. Verdadeiro caráter não é concedido em um momento milagroso; o verdadeiro caráter é conseguido com o tempo. O caráter divino é formado em nós, com o tempo e a experiência – não há atalhos ou encontros de poder que removam estes dois elementos.

Liderar com o som da sua vida.

Lidere o louvor com uma vida que, particular e publicamente, ressoa amor, obediência e honra a Jesus. Desta forma seu instrumento mais forte para liderar louvor será o som de sua vida e sua liderança de louvor irá manifestar o favor e a força que somente Deus pode dar.
Pr Josué